Um edifício com
HISTÓRIA
Este imóvel, inaugurado no dia 31 de Dezembro de 1926 e situado na esquina com a Rua Conselheiro Medeiros e o Largo Infante Dom Henrique (anteriormente chamado de Largo Neptuno), combina um estilo sofisticado com elementos de arquitectura “art déco”.
Este edifício esteve intimamente ligado ao período da hidroaviação, tendo albergado, na década de 30 do século XX, o escritório da famosa “Fabre Line”, companhia marítima de navegação, representada pelo industrial José Furtado Cardoso.
Dada a sua excelente localização geo-estratégica, a Horta, cidade-portuária, foi palco de voos experimentais e pioneiros. Vejamos como, quando e por quem.
No dia 17 de Maio de 1919 amarou na baía da Horta o hidroavião “NC 4” da Marinha dos Estados Unidos, comandado pelo capitão tenente Albert Read, que cumpria uma primeira etapa do voo inaugural de Trepassey (Terra Nova) para Plymouth, na Inglaterra. Seguiram-se, em 1927, outras heróicas amaragens: o italiano Francesco de Pinedo, a bordo do hidroavião “Santa Maria II”; a aviadora Lilil Dillenz, austríaca de nascimento, a bordo do hidro alemão “Junker D 1230” e que viria a confraternizar com uma outra aviadora arribada à Horta: a norte-americana Ruth Elder no seu avião “American Girl”, tendo ambas sido alvo das maiores atenções.
Em 1928 foi a vez de amarar o hidroavião “G- CAJI”, do britânico Frank Courtney e, nesse mesmo ano, o hidroavião “La Frégate”, do francês Paulin de Paris. Um ano mais tarde causaria espanto geral o hidroavião alemão “Dornier DO X”, bem como os aviões de esquadrilha chefiada pelo italiano Italo Balbo.
No dia 4 de Junho de 1930 ficaram os faialenses boquiabertos ao verem, a sobrevoar a sua ilha, o “Graf Zeppelin LZ127”, o gigantesco dirigível alemão vindo dos Estados Unidos e de cujo bordo se obteve a primeira fotografia aérea da cidade da Horta.
No dia 21 de Novembro de 1933 chega à Horta, acompanhado da sua esposa, Charles Lindbergh, o ás da aviação, no seu “Lockheed Sirius, a fim de avaliar as condições da baía da Horta para futuras carreiras transatlânticas da Pan American. Os anos de 1936 e 1937 são marcados pelos potentes hidroaviões “Nordmeer”, “Nordwind” e “Nordstern”, da Lufthansa, que seriam catapultados a partir da Horta para Nova Iorque.
A Pan American Airways iniciou, a 21 de Março de 1939, uma carreira regular de hidroaviões, os denominados “clippers”, os quais, até finais de 1945, amararam na baía da Horta, de forma histórica e espetacular.
A par de tudo isto, convirá não esquecer que a Horta, nó de amarração de cabos telegráficos submarinos a partir de finais do século XIX, foi utilizada como base naval durante as duas grandes Guerras Mundiais. Uma impressionante comunidade estrangeira de ingleses, americanos, alemães e italianos fixou-se na Horta, deixando influências a nível social, cultural e desportivo.
Porto de acolhimento, nos dias de hoje a Horta já não será a “a maior cidade pequena do mundo”, no dizer do poeta Pedro da Silveira. Mas a sua Marina (inaugurada a 3 de Junho de 1986) é considerada a primeira de Portugal, a segunda da Europa e a quarta a nível mundial, em termos de movimentação de “pleasure boats” (iates de recreio). Para muitos trata-se da marina oceânica mais internacional do mundo. Por aqui aportam veleiros e velejadores de todo o mundo (os “iatistas”), reforçando-se, assim, um segundo momento de cosmopolitismo da cidade.
Victor Rui Dores